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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Rugas do amor eterno

Em uma casa de madeira no interior, morava um casal de idosos casados a mais de 70 anos. Os filhos, um menino e duas meninas, já casados e pais, os visitavam no máximo três vezes por ano. Os dois viviam uma vida simples, sem muita mordomia nem regalias, porém juntos, trabalhando noite e dia conseguiram fazer dos seus filhos excelente profissionais. O mais velho tornou-se engenheiro, a menina advogada e a mais nova recém formada em odontologia, os três com uma vida sossegada e aconchegante.
Durante a infância das crianças a mãe, trabalhava como professora; enquanto seu esposo era carpinteiro. Algo que admirável entre os dois era o convívio, o amor que existia dentro da casa. O pai das crianças tinha um quartinho do lado de fora onde construía e reformava móveis durante todo o dia. Várias vezes ouvia-se o homem rindo com seus filhos enquanto criava brinquedos para suas crianças. A mãe, professora, chegava em casa com o almoço na mesa e as crianças prontas para irem à escola. Seu esposo, dedicado, deixava tudo pronto esperando a chegada de sua amada. Durante toda a tarde os dois trabalhavam juntos. Após a casa arrumada, a mulher descia pelas escadas que rangiam avisando ao carpinteiro a vinda de sua professorinha. A noite era da família, onde todos conversavam, brincavam e riam. Uma família estruturada que tudo fez para que a união e amor reinassem dentro da casa. Nos domingos o café era colonial, contudo a mulher recebia na cama seu café, com um bilhete de bom dia e uma rosa branca, jamais acabará o romantismo entre os dois. O tempo foi passando e as crianças crescendo o mais velho agora tinha 25 anos, saiu de casa para procurar mais oportunidades, passado-se 2 anos era pai de família casou-se e teve um filho. No aniversário de 15 anos da filha mais nova uma tragédia aconteceu e o lugar onde o homem trabalhava pegara fogo. Anos de construção, anos de investimento, de trabalho indo embora com as cinzas, com a fumaça... com o vento. Mas não desistiram, a mulher persistente como sempre, trabalhou com mais garra e conseguiu ajudar seu esposo reerguer e voltar a trabalhar. Agora era a vez das meninas, as duas saíram de casa, foram morar na capital, estudar, trabalhar e construir suas famílias, assim dito e assim feito. Mas lá no interior ainda existia aquele casal que esperava os filhos três vezes ao ano de braços abertos e coração na mão.
70 anos de casados, três filhos, dois aposentados, uma casa de madeira no interior. Casa arrumada, com bolo de fubá em cima da mesa (favorito das crianças), quitutes, suco e café com leite. Na varanda o casal de mãos dadas um em cada cadeira de balanço e a cabeça encostada, a espera dos meninos para todos juntos comemorarem o aniversário de casamento, ao lado uma mesinha com um rádio que tocava uma música suave e calma. Dia era claro, com brisa leve. De repente carros chegam, crianças correndo, portas de carro batendo. A família chegou. Ao subirem os degraus da varanda os sorrisos se fecham, as bocas se calam, as lágrimas caem e o silêncio predomina. Enquanto na face dos velhos amantes o sorriso leve permaneceu, com as cadeiras balançando e as mãos enrugadas e frouxas com dedos entrelaçados, demonstrando o amor que ali viveu.

Por Mariane N. Souza


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