Translate

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Gosto de chuva

Cícero era um rapaz muito elegante, dono de uma empresa conceituada em sua região. Um chefe flexível e sorridente, compreensivo com seus funcionários e muito bonito. Alto, porte atlético, sorriso largo, cabelos escuros e curtos, sempre muito bem arrumado. Cícero vivia bem vestido, com roupas sociais. Porém tinha um enorme defeito: um “Super Ego”. Orgulho era seu segundo nome. Vivia contando vantagem sobre tudo. Sua casa era melhor, seu trabalho era o melhor, tudo que fazia era melhor que o outro. Todas as vezes que alguém de uma classe “inferior” lhe dirigia a palavra, ele ignorava, como se não estivesse ouvindo, o que revoltava muita gente. Um belo dia, o elegante rapaz foi interrompido por uma senhora que lhe oferecia salgados. A mulher um pouco mais velha foi insistente e enquanto não conseguiu a atenção do vital homem não parou de insistir. Cícero com toda sua arrogância e orgulho, olhou com desprezo à senhora e disse que o que ela vendia não era plausível a alguém de porte como ele e continuou sua caminhada. Se passado 20 anos, o forte rapaz e totalmente seguro de si, já não existia mais. Cícero perdera sua empresa em uma jogatina e caiu em lamúria, vivia de lamentações, entretanto continuava com o orgulho de sempre. Uma noite ao sair de um bar, incrivelmente bêbado encontrou a mesma mulher dos salgados, que agora já arrastava os pés pela calçada por conta da idade avançada. Ao avistá-la, Cícero caiu em gargalhadas, referindo-a como alguém sem valor algum. Ao apontar à senhora, tropeçou e caiu em frente ao bar que acabara de sair, não conseguindo levantar do local - devido ao alto consumo de álcool -, continuou a gargalhar. Olhando para cima, Cícero enxergou alguns furos na cobertura externa do local. A chuva caía lentamente como de costume naquela época do ano e, de repente, enquanto Cícero observa as goteiras caírem, uma gota cai dentro de sua boca, descendo pela garganta junto com o orgulho que ali jaz. Ao lado, a senhora – motivo de toda euforia – fica a observar. O homem engasga com a minúscula gota de chuva e com o álcool que corre por suas veias e embaça seus olhos. Cícero morre ali, implorando por ajuda. A natureza apaga de vez o orgulho e a arrogância do que foi um dia um grande empresário. Acaba, ali mesmo, na frente de um mísero bar, Cícero, afogado pelo próprio ego. Ao concretizar a cena, a mulher continua sua longa caminhada, com o guarda-chuva preto arrastando-se pela calçada e a multidão que ajuntou-se voltam à suas vidas, como se nada tivesse acontecido.

Por Universo das Palavras
Fotos: Google Images


Nenhum comentário:

Postar um comentário

UP agradece sua visita e o seu comentário. Sinta-se sempre bem vindo ao nosso cantinho.



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...