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sábado, 3 de dezembro de 2011

15 - "Quinze"

Os anos passam, os momentos acabam e tudo parece ser incompreensível. Essa é a idade dos sonhos perdidos. 
Pedro, um garoto de 15 anos precisou sofrer um terrível acidente para conseguir entender o que é a vida. 
_ Não Pedro, não vá. Não faça isso, você tem apenas 15 anos. Não teime Pedro, não vá! 
_ Ah! Mãe me deixa você não manda em mim. Meu pai me deu de presente. Vamos galera! 
_ Uhuuu! Vruummm... 
_ Pedro cuidado. A luz. Cuidado. Socorro. Screeech iééé! Craaash! 
_ Iôn iôn iôn... Afastem-se, afastem-se, deixem-nos passar! 
_ Piiip Piiip Piiip... Como ele está doutor? Está bem, não corre mais risco de vida, mas terá graves sequelas! 
_ Sequelas doutor, meu Pedrinho, o que acontecerá com ele? 
_ Sim dona Sônia, seu filho não poderá mais andar. Perderá o movimento das duas pernas. 
_ Não, não pode ser verdade! 
Pedro era filho único, um garoto sem valores e escrúpulos, que sempre teve tudo na vida e não soube aproveitar. Quando pequeno um amor de criança, aos 5 anos os pais se separaram. A partir de então Pedro não era mais o mesmo. Na escola não tinha incentivo, os professores o chamavam de mimado e diziam que o menino não tinha mais jeito. Com 09 anos começou a sair com garotos “barra pesada”, roubavam para brincar, Pedro influenciado por seus amigos começou a fazer o mesmo. O pai, senhor Valter, não se importava com o garoto, a mãe dava tudo que tinha para satisfazer a falta que o pai fazia na vida do menino. 
Aos 12 anos, Pedro foi flagrado junto aos outros amigos, tentando roubar uma loja. A mãe do garoto, mesmo muito decepcionada foi até a delegacia buscá-lo. Em casa perguntou-lhe o porquê daquilo. 
_ Por que você fez isso Pedro? Eu já não te dou tudo que você quer, por que roubar? 
_ Eu sei mãe, desculpa, mas eu achei que era legal, pensei que não fosse acontecer nada. Desculpa! 
_ Tudo bem Pedro, mas, por favor, não faça mais isso. Eu te amo tanto e não quero um filho marginal. Venha aqui. 
Deitado no colo da mãe o garoto dormiu como um anjo, fazendo com que ela aceitasse o acontecido e acreditasse que aquilo jamais aconteceria novamente, porém não foi como ela imaginava. 
Toda noite Pedro chegava de madrugada, irritado, sem dar explicação de nada; enquanto a mãe ficava sentada no sofá esperando seu menininho chegar. Dona Sônia não sabia mais o que fazer para conseguir fazer Pedro parar com as coisas erradas que estava fazendo. A mulher havia buscado o garoto na delegacia mais de três vezes por bebidas e tentativas de roubo. 
Quando Pedro fez 15 anos o pai, irresponsável deu-lhe um carro velho para “brincar” como disse o homem quando lhe deu o presente. No mesmo dia o garoto pegou o carro, mesmo com a mãe insistindo para não ir e saiu com os amigos. Naquela noite Sônia sabia que algo de ruim iria acontecer, seu filho era irresponsável demais para dirigir. Ficou rezando até adormecer, pedindo proteção ao garoto, contudo, na madrugada do mesmo dia, o telefone de Sônia toca. 
_ Triiiimm, triiimm... 
_ Alô! 
_ Dona Sônia? 
_ Sim sou eu, pois não! 
_ Dona Sônia a senhora pode comparecer ao hospital central, por favor? 
_ O que aconteceu, é o Pedro, aconteceu algo com ele? O que aconteceu moça? Ele está bem? É o Pedro, responde, por favor! 
_ Sim, mas fique calma, seu filho sofreu um acidente de carro, mas não corre risco de vida. Venha até o hospital, obrigada! 
Sônia desligou o telefone, trocou de roupa o mais rápido possível. Desesperada foi até o hospital onde estava seu filho, deitado em uma cama cheio de aparelhos e com o corpo completamente machucado. 
Pedro havia batido defronte a uma carreta carregada com toras, além da batida forte as toras de cima da carreta caíram sobre o carro amassando-o, deixando todos os amigos de Pedro em óbito e ele em coma. 
A mãe chorou a noite toda ao lado da cama onde o filho estava, se perguntando o que tinha feito de errado para que o menino, tão jovem, se tornasse aquilo que se tornara. 
Passado se três dias em coma Pedro abriu os olhos, perguntando o que tinha acontecido e onde estava. A mãe, como sempre ao seu lado respondeu contando o que acontecera. Pedro começou a chorar e se lamentar pelo fato e pelo que fizera. Pediu e implorou desculpas a sua mãe, a qual chorando abraçada a ele o perdoou como sempre fazia. 
_ Mãe, não estou sentindo minhas pernas, por quê? O que está acontecendo, minhas pernas. 
Pedro começa a chorar questionando o que estava acontecendo, o médico ao lado do garoto pede para ele ficar calmo e lhe explica: 
_ Pedro devido à forte pancada durante o acidente, você não poderá mais andar, em consequência de fraturas nas vértebras rompendo a medula. Para você voltar a mexer as pernas terá que acontecer um milagre. Sinto muito Pedro, mas não há o que fazer. 
O garoto muito nervoso, já com a morte dos seus amigos, entra em prantos, dizendo que preferia ter morrido junto com seus colegas do que ter ficado vivo sem poder andar. Sua mãe senta a beira da cama com a cabeça do garoto em seu colo e o consola, fazendo-o adormecer. 
Uma semana depois, o menino foi liberado pelos médicos, voltando para casa em uma cadeira de rodas. 
Pedro se tornou um garoto triste, desanimado que não fazia nada, ia para a escola apenas porque sua mãe mandava e como ele sabia que já tinha causado muito problemas e a feito sofrer demais, fazia o que ela pedia. Seu dia se resumia em comer, dormir, TV e escola. 
Sônia começara a trabalhar em um centro de reabilitação para pessoas que haviam adquirido deficiências depois do nascimento em consequências de acidentes ou outro tipo de fator, menos o genético. O trabalho estava ajudando-a estimular o seu filho, a entendê-lo e a incentivá-lo. O que estava sendo muito difícil. 
Certo dia de tanto Sônia insistir Pedro acompanhou-a até a clínica passando por diversos setores. 
_ Essa é a sala das pessoas que têm paralisia cerebral, Pedro. Aqui eles fazem exercícios, ouvem música, estudam, pintam, fazem todo e qualquer tipo de atividade recreativa que estimulam a melhora. 
Sônia mostrou toda a clínica para seu filho, esperando que o menino se sentisse motivado pelo que estava vendo, porém nada fazia com que Pedro sentisse vontade de melhorar. 
_ Filho essa sala são de crianças que sofreram acidentes assim como você. Alguns são tetraplégicos, paraplégicos, alguns perderam outros sentidos... Aqui eles praticam esportes, conversam, trocam ideias. 
Pedro olha aquelas crianças, assim como ele, em cadeiras de rodas, outras deitadas em uma cama sem movimentar nenhum dedo, apenas os olhos, aquilo o comove. 
Ao irem embora o garoto comenta com sua mãe que gostaria de ajudar aquelas crianças, mas que não podia porque agora era inválido. Chorando falou que não tinha mais o que fazer, que para ele não existia mais vida. 
_ Eu não sirvo para mais nada mãe, não posso andar, não posso fazer mais nada. Tudo que tive um dia joguei no lixo. Sou um inconsequente que nunca se preocupou com nada, além de um assassino, sou também um inválido. Sinto muito mãe, muito mesmo, me desculpe por tudo que fiz, eu não queria ser assim! 
Sônia ouviu tudo com atenção e não disse nada, deixou o menino refletir a noite toda. 
Na manhã seguinte, Pedro acordou tomou banho colocou sua guitarra sobre a perna e foi para a cozinha tomar café. Sônia achou estranho o menino, depois de tanto tempo, acordar cedo e aparecer na cozinha para tomar café tomado banho e com a guitarra em mãos. Há tempos ela não o via tão animado. 
_ Mãe eu pensei muito e sei o que posso fazer para ajudar aquelas crianças. Vou dar aulas de guitarra, ensiná-las a tocar. Quero trabalhar como voluntário! 
Sônia com os olhos cheios de lágrimas levou o garoto até a clínica e explicou ao diretor o que seu filho queria fazer. 
_ Claro Pedro, você pode trabalhar conosco, será uma honra tê-lo dentre nossos funcionários. 
Há 7 anos Pedro trabalhou na clínica como professor de música, formando 14 turmas. 
Com 25 anos se casou com uma das funcionárias, se tornando o dono da, agora chamada, Clínica Esperança de Sônia, em homenagem a mãe que falecera há um ano, em consequência, de uma parada respiratória. 
Pedro agora se tornou o pai Pedro, esposo Pedro e empresário Pedro. Aquele garoto inconsequente de antes morreu junto com seus amigos, no dia do acidente. 
Na inauguração da nova clínica, Pedro homenageou a mãe agradecendo tudo que ela fez por ele. 
_ Hoje, inauguro essa clínica com o nome Esperança de Sônia em homenagem a minha mãe, aquela que me fez ser o que sou hoje, aquela que mesmo sofrendo com meus erros nunca perdeu a esperança de me fazer tornar alguém melhor, mesmo depois de tudo que aconteceu e que eu a fiz passar ela conseguiu alcançar seu objetivo. Transformar-me em alguém bom, com escrúpulos, responsável e consciente
Mesmo com a voz embargada, o garoto continua:
_Então agradeço muito a tudo que ela fez para mim. Não importa onde você esteja mãe, eu a amo muito e sempre serei grato por tudo que você fez, mesmo estando sozinha, conseguiu aguentar tudo e ser “A Minha Mãe”. 
Todos com os olhos cheios de lágrimas aplaudem em pé, o garoto paraplégico que começou a viver depois de “perder a vida”.
Por Mariane N. Souza

Apresentado na aula de Literatura Infanto Juvenil

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